B.I.

Nome completo: José Carlos Camacho Rebolo

Idade: 49

Local onde reside: Funchal

Profissão: Funcionário Público




Entrevista

1. Como define o Culturismo? E que significado tem para si?

R:
Culturismo para mim é neste momento o meu modo de vida, dado o envolvimento que a sua prática a nível competitivo implica, ou seja é uma modalidade desportiva que é vivida 24 horas por dia.


2. O que o fez começar a treinar? E actualmente, o que o faz continuar a treinar?

R:
Para mim, esta modalidade foi “paixão á primeira vista” tive o 1.º contacto com esta, as 16 anos de idade, aproximadamente, e desde logo comecei a praticar em casa, com pesos que eu próprio fabriquei com recipientes, cheios de betão.
Actualmente, ainda tenho a mesma paixão pelo treino, adoro treinar, no treino é onde me encontro comigo próprio.
Citando aqui a conhecida frase publicitária, digo se poderia viver sem treinar e sem competir!...podia!...mas certamente não seria o mesmo Carlos Rebolo.


3. Há quanto tempo pratica culturismo? Que diferenças encontra desde esse altura até aos dias de hoje?

R:
Como já referi anteriormente, pratico esta modalidade desde os 16 anos de idade e com 1 ano de treino, salvo erro participei na minha 1.ª competição, que por coincidência foi também o 1.º concurso de culturismo que se realizou na Ilha da Madeira, tendo ficado classificado em 4.º lugar. Desde então, tenho competido regularmente em competições, com algumas interrupções motivadas principalmente por afazeres profissionais.
As diferenças desde aquela altura para agora são abismais, a falta de informação era atroz, não havia conhecimento sobre nutrição suplementação e metodologia de treino. Fui um autodidacta durante estes anos, aprendendo com os meus próprios erros. Naquela altura não haviam, como existe nos dias de hoje, a internet, os fóruns e os inúmeros “gurus” da modalidade que se autodenominam de “preparadores” que nem eles próprios sabem muito bem aquilo que dizem ou fazem, nem tão pouco sabem aplicar neles próprios, com sucesso, as formulas que tentam impingir aos outros.




4. Teve algum ídolo que o ajudou a iniciar esta já longa aventura ao nível do culturismo?


R:
Eu fui ao longo da minha vida, nunca tive traços de personalidade que me identifiquem como “Fã” de um clube ou alguém em particular, nem cultivar a imagem do “ídolo”. Guardo um carinho muito especial, por um tio já falecido, que treinava na Venezuela, e foi de facto uma referência, real e conhecida para a mim, pois motivou-me desde o 1.º momento.
Admiro e tenho a maior admiração por todos os atletas que se notabilizaram nesta modalidade pelo Mundo, pois sei o quanto é preciso amar este desporto, para conseguir resultados, e o quanto, muitas vezes é preciso sofrer e acreditar em nós próprios, para seguir treinando e competindo ao longo de uma vida, ultrapassando derrotas e disfrutando das vitórias quando elas acontecem.




5. Ainda se recorda da primeira competição de culturismo em que participou? Foi em que ano? Que prova? E que recordações guarda dessa primeira vez em que competiu?

R:
Como já referi anteriormente, foi por volta dos meus 18 anos, não recordando em que ano, isso aconteceu, mas sei que foi no 1.º concurso de culturismo que foi organizado na Madeira, onde fiquei classificado em 4.º lugar.
Foi uma experiencia fantástica, nunca mais esqueço os primeiros passos que dei, na direcção do palco, quando o meu nome foi anunciado, é simplesmente indescritível.


6. Sendo um atleta internacional, que diferenças se encontram entre o culturismo Nacional e o culturismo além fronteiras?

R:
Além fronteiras, o culturismo é de facto mais divulgado e reconhecido nalguns países, sendo inclusivamente, apoiado a nível oficial, pelos Estados, que vêm na modalidade mais uma oportunidade para afirmar o seu sistema politico e a sua supremacia. Mas por outro lado existem países em que esta modalidade não é apoiada e reconhecida.
A realidade nacional está de acordo com o país que somos, um país pequeno, e a braços com uma grande crise económica, cujos reflexos se fazem sentir em todos os domínios sociais, e desportivos. Por outro lado em Portugal desporto é futebol e o resto é paisagem, como todo o mundo bem sabe.



7. Quando competiu pela primeira vez a nível internacional? Foi difícil dar o salto para os palcos internacionais?

R:
É um salto para o desconhecido, literalmente, e aproveito para reconhecer a ajuda preciosa que tive por, parte de um grande amigo, e foi quem de facto me acompanhou e abriu as portas para a IFBB, o meu amigo Nuno Guerreiro, a quem ficarei eternamente reconhecido.


8. Qual é a sensação de ganhar um Campeonato da Europa e um Campeonato do Mundo?

R:
É impossível descrever com exactidão por palavras aqueles intermináveis minutos em que é anunciada a classificação e estás sempre á espera que digam o teu nome, até ao momento em que dizem o nome do segundo classificado e te apercebes que de facto ganhas-te, pois não existe mais nenhum concorrente para ser nomeado.
Depois disso, são aqueles primeiros acordes do hino nacional e depois é aquela sensação de incredulidade, ou seja, nem tu próprio acreditas que aconteceu contigo.


9. Alguma vez teve apoios/patrocínios para poder competir a esse nível? Se sim, de que forma lhe foram úteis?

R:
Nunca tive patrocínios, sempre me patrocinei a mim próprio, tive algum apoio da Federação, que dentro a medida das possibilidades financeiras, me concedeu algum apoio.



10. Nunca tentou ou pensou em obter a carteira Profissional?

R:
Profissional!?... foi uma coisa que nunca coloquei como objectivo, nem vejo como prioridade.


11. Recentemente participou numa grande competição Internacional como é o Arnolds Classic Amateur. Que recordações trouxe dessa experiência?

R:
Foi muito bom competir num evento daquela natureza, pois segundo sei fui o 1.º português a ali competir, por outro lado, foi a 1.ª vez que competi, numa competição de seniores, daquele nível, e numa categoria de até 100kg de peso corporal, pois até então competi na categoria até 90 kg.
E foi de facto muito bom ter ficado classificado entre os 10 primeiros naquela classe, onde a maior parte dos concorrentes tinham metade da minha idade e numa competição daquele nível.


12. Quais são as principais dificuldades para competir a esse nível?

R:
As dificuldades são iguais para para qualquer competição, na minha opinião, naquela prova em particular, um obstáculo muito grande é o tempo de voo, “é um autentico massacre”.


13. Considera-se um atleta realizado por tudo aquilo que fez até agora?

R:
Sem dúvida adoro este desporto e amo competir.


14. Segundo consta, vai participar no próximo mês de Maio de 2012 no Campeonato da Europa na Croácia. Quais são as perspectivas para essa prova?

R:
As mesmas que traço para todas as provas em que participo, fazer o meu melhor e esperar que esse melhor se traduza numa vitória.


15. Quais as principais dificuldades para competir a esse nível?

R:
São as dificuldades inerentes ao estatuto ao mais alto nível daquele tipo de competições, pois ali vão sempre os melhores dos melhores de todos os países.


16. Quais os custos médios envolvidos, para competir a este nível?

R:
Muitooooooooooooooooooo, sobretudo com viagens e deslocações.


17. Sendo um atleta português e acompanhando o culturismo nacional, pensa que pode haver mais atletas com capacidades de conseguir bons resultados internacionais, futuramente?

R:
Não sei! Sinceramente, depende da vontade dos próprios atletas em acreditar e continuar a treinar ao longo dos anos, sem desistirem dos seus sonhos.
Eu recordo que desde a altura em que comecei a competir, conheci muitos atletas de Portugal, com qualidades fantásticas, mas que foram desistindo ao longo tempo.



18. Sendo também um conceituado Preparador de Atletas e tendo experiencias competitivas nos EUA quais as grandes diferenças entre Portugal e os EUA a nível de formas e metodologias de treino?

R:
Eu não sou preparador e muito menos conceituado!... Sou sim treinador dos atletas que treinam no meu ginásio e pouco mais!... essa, denominação de “preparador” deixo para os auto proclamados “gurus” que por aí proliferam e vendem essa imagem.
Até porque...já tive alguns dissabores com pessoas que ajudei com toda a boa vontade do mundo, com os meus conhecimentos, sem pedir nada em troca, e depois, porque as respectivas expectativas não se realizam, por falta de empenho pessoal, se revelaram uns ingratos.
Quanto às metodologias de treino, actualmente vivemos na era da comunicação, quase instantânea e a informação flui com uma grande velocidade, pelo que não existem grandes diferenças entre as metodologias de treino praticadas nos EUA e aqui. O problema são as pessoas que não têm a atitude necessária e capacidade de sacrifício para aguentar os rigores da competição, é muito mais fácil atribuir as culpas aos outros e às circunstâncias.



19.Qual a sua “Refeição Lixo” favorita e com que intervalos de tempo opta por fazer uma refeição deste tipo?

R:
Desconheço o que seja “Refeição Lixo” eu desde que comecei a competir internacionalmente sigo uma dieta adequada aos meus objectivos competitivos, que varia em função da proximidade das competições, tornando-se mais ou menos rigorosa. Mas por outro lado não sou um ritualista da dieta, podendo sair da dieta habitual em ocasiões especiais, sem que isso altere em nada o plano estabelecido.



20. Considera importante um atleta fazer este tipo de refeições? De que forma podem ser benéficas?

R:
É benéfico, porque permite ao atleta sair um pouco da rotina.


21. A nível de suplementos, o que pensa acerca deles? Usa? Se sim quais? Em que períodos e com que finalidades?

R:
A indústria a alimentar e a investigação científica realizada, permitiu o estudo e a concepção de suplementos alimentares que permitem nos dias de hoje, aos atletas ganhos de performance a mudar a composição corporal em aproximadamente 30%, que é um valor muito significativo, quando se fala de performance humana.
Eu uso, como não podia deixar de ser muitos suplementos, como por exemplo proteína, creatina, glutamina etc, etc, etc.



22. O que pode dizer a quem está a iniciar-se neste estilo de vida?

R:
Que não tenham pressa, a pressa é inimiga da perfeição, como já dizia o velho ditado! Procurem o bom treinador e não um “preparador” cujo principal objectivo é impingir ensinamentos, e sabe-se mais o quê...que eles próprios não os utilizavam.


23. Acha que actualmente as pessoas no geral, ainda olham com algum preconceito para os praticantes de culturismo e para o próprio culturismo em si? De que forma se poderia alterar este tipo de pensamento?

R:
As pessoas sempre tiveram a sempre vão ter preconceitos relativamente aos praticantes de culturismo, esse é um comportamento humano natural, sermos preconceituosos com a diferença, por outro lado, são muitas vezes os praticantes do culturismo que com os seus comportamentos muito pouco éticos que fazem criar o preconceito social, onde infelizmente somos todos colocados, sem diferenciação.


24. Se pudesse alterar alguma coisa no culturismo português seria o quê?

R:
O culturismo Português é reflexo da dimensão do nosso Pais, a braços com uma grave crise económica, que atinge gravemente todos os sectores sociais, mudar, sim é possível, mas nas circunstâncias atuais, o quê? ... acho, que a federação faz aquilo que as actuais circunstâncias permitem, para manter viva a modalidade, organizando provas, porque no passado nem provas onde poder competir existiam.


25. Desde que se envolveu neste desporto teve sempre o apoio dos seus familiares? De que forma é esse apoio importante para um atleta?

R:
O apoio familiar é fundamental, eu digo sempre que, metades de todas as minhas vitórias pertencem por mérito próprio á minha esposa, que me dá incondicionalmente todo o apoio sem o qual não teria sido possível.


26. Para finalizar, tem algum agradecimento a fazer, ou algumas palavras que queira dizer a todos os seguidores do seu trabalho?

R:
Agradeço a todos o apoio incondicional, as palavras e os gestos de apreço que ao longo dos anos me têm motivado a prosseguir.
Agradeço também a todos os elementos que compõem a direcção da federação e ao seu presidente, Vitor Reis, pelo seu apoio ao longo de todos estes anos em que ocupa aquele cargo.



Um obrigado ao atleta Carlos Rebolo pelo tempo disponibilizado na realização desta entrevista.
Luís Veiga

Assessor de Imprensa IFBB-Portugal